Desmentindo a Falácia: O Nazismo é de Esquerda?
Introdução: Uma das alegações mais comuns feitas por certos grupos de direita é que o nazismo, liderado por Adolf Hitler, teria sido uma ideologia de esquerda, devido ao uso do termo "socialista" em "nacional-socialismo". Essa visão, no entanto, é profundamente equivocada e ignora tanto a ideologia real do partido nazista quanto suas práticas econômicas e políticas. Neste artigo, abordaremos as bases filosóficas, políticas e econômicas do nazismo, demonstrando que, na realidade, ele era uma ideologia de extrema-direita, fortemente anti-marxista e capitalista.
1. O Que Significa "Nacional-Socialismo"?
O termo "nacional-socialismo" no nome do partido nazista (Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães, NSDAP) não deve ser interpretado como um alinhamento com o socialismo de esquerda. De fato, Hitler e seus correligionários utilizaram o termo "socialismo" de maneira puramente retórica, numa tentativa de atrair trabalhadores e setores populares, ao mesmo tempo que condenavam abertamente o marxismo e o comunismo. Em seu livro "Mein Kampf", Hitler descreve o marxismo como "a praga do mundo" e faz um apelo pela destruição dos movimentos operários comunistas e socialistas, que ele considerava inimigos mortais.
Ademais, o nacional-socialismo se baseava em princípios opostos ao do socialismo de esquerda, que defende a igualdade, a abolição das classes sociais e o controle popular dos meios de produção. O nazismo, por outro lado, promoveu a ideia de uma sociedade rigidamente hierarquizada, baseada em critérios raciais e nacionais. Enquanto o socialismo visa à luta de classes e à solidariedade internacional dos trabalhadores, o nazismo exaltava o nacionalismo extremo, o racismo e a supremacia racial ariana.
2. Oposição Radical ao Marxismo e ao Comunismo
O nazismo foi fundado em uma oposição violenta ao marxismo e ao comunismo, algo amplamente documentado em estudos históricos. O primeiro campo de concentração nazista, Dachau, foi criado para prender principalmente comunistas, socialistas e sindicalistas. Como pode uma ideologia que reprime brutalmente os comunistas e socialistas ser considerada parte da esquerda?
A repressão aos movimentos de esquerda na Alemanha nazista foi sistemática e brutal. Adolf Hitler e Joseph Goebbels frequentemente associavam o comunismo a uma conspiração judaica, o que resultou em perseguições severas a esses grupos, incluindo líderes operários e intelectuais de esquerda.
Conforme demonstrado por estudiosos como Ian Kershaw e Richard J. Evans, os nazistas empregaram uma política sistemática de destruição do movimento trabalhista. A liderança comunista e socialista foi perseguida, assassinada ou exilada. Assim, fica evidente que a esquerda foi uma das maiores inimigas do regime nazista.
3. O Nazismo como Ideologia de Extrema-Direita
Ideologicamente, o nazismo se alinhava com o que hoje chamamos de extrema-direita. Ele defendia o ultranacionalismo, o militarismo, a subordinação total do indivíduo ao Estado e a supremacia racial. Hitler defendia um darwinismo social que dividia a sociedade em raças superiores e inferiores, uma ideologia diametralmente oposta aos princípios igualitários e internacionalistas da esquerda.
Além disso, o nazismo promovia a eliminação de "inimigos internos", como judeus, ciganos, deficientes e homossexuais, seguindo uma lógica de "purificação" racial que jamais encontraria eco em movimentos de esquerda, cujos princípios se baseiam na inclusão e na defesa das minorias. A propaganda de direita tenta distorcer esses fatos ao apontar as políticas intervencionistas do Estado nazista como "socialistas". Entretanto, como veremos na próxima seção, as práticas econômicas nazistas eram voltadas para a preservação e o fortalecimento do capitalismo e da propriedade privada.
4. A Economia do Nazismo: Capitalismo e Privatizações
Um dos argumentos centrais usados para tentar associar o nazismo à esquerda é a ideia de que o regime hitlerista teria implementado políticas econômicas socialistas. No entanto, evidências históricas mostram que, sob o regime nazista, houve uma onda de privatizações de empresas e serviços públicos. Contrariando a tendência de estatização que caracterizava a maioria dos regimes socialistas e até outros governos europeus da época, o governo nazista privatizou indústrias importantes, bancos e serviços públicos.
De acordo com o estudo de Germà Bel, Against the Mainstream: Nazi Privatization in 1930s Germany, o regime nazista não apenas preservou a propriedade privada como a promoveu ativamente através da privatização de empresas estatais, como ferrovias, siderúrgicas e bancos . Este movimento foi único entre os países europeus durante a década de 1930, quando a tendência em várias nações era a estatização de setores estratégicos da economia. Assim, o nazismo estava em linha com os interesses da elite capitalista alemã, garantindo que o controle econômico permanecesse nas mãos de grandes industriais e banqueiros.
Além disso, o artigo de Christoph Buchheim e Jonas Scherner, The Role of Private Property in the Nazi Economy: The Case of Industry, demonstra que a economia nazista preservava a propriedade privada e o poder das corporações, mas com uma forte regulação estatal para atender aos objetivos de guerra do regime . Ou seja, o nazismo não tinha como objetivo abolir o capitalismo, mas sim utilizá-lo de forma concentrada e subordinada aos interesses do Estado nazista.
Em resumo, o nazismo não é uma ideologia de esquerda, mas sim uma forma de extrema-direita que se opôs radicalmente ao marxismo e ao comunismo. Seu uso do termo "socialismo" era puramente retórico e estratégico, com o intuito de obter apoio popular. As políticas econômicas do regime reforçaram a propriedade privada e foram favoráveis ao capitalismo, ao contrário das diretrizes socialistas tradicionais. É fundamental que esses fatos sejam reconhecidos e disseminados para desmantelar essa falácia que tem sido utilizada por grupos de extrema-direita para tentar reescrever a história e justificar ideologias opressoras.